O trabalho da segunda semana de estágio foi muito marcante. Ele fez com que não só o olhar do alunos pudesse se transformar em mágico para as coisas do mundo, mas principalmente o meu. A partir da história, da reflexão e do envolvimento dos alunos percebi que também possuo um olhar que pode ser mágico.
Os alunos e alunas fizeram a leitura do livro “Os olhos mágicos de João” de Marô Barbieri,individualmente e tiveram um sentimento bom com a perspectiva de cada um possuir um exemplar do livro, possibilidade essa que foi tranqüila pois temos dez exemplares do livro na biblioteca e eu também levei o meu próprio exemplar para atividade. O autógrafo de Marô Barbieri em alguns exemplares também foi motivo de comentários sobre como foi a visita da autora no ano de 2009 à escola.
Após o trabalho de interpretação ficou claro que é necessário instigar a imaginação para que os alunos usem a sua e acreditem que é possível a partir do sentimento mágico exercitar novos sentimento que possibilitem conhecer além do que o mundo nos apresenta concretamente. É necessário que os alunos acreditem em seus próprios sonhos e sua própria imaginação.
“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!” (Mário Quintana, 1948)
Após a leitura, realizamos a confecção de óculos em papelão com celofane colorido para que pudessemos imaginar um outro mundo e nossos sonhos. E foi nesse momento que as coisas se transformaram, pois ali, na brincadeira passamos, alunos, alunas e eu, que é possível, com imaginação, alegria e crença no sonho, que as coisas podem trilhar os rumos que gostariam que tivessem.
A confecção dos óculos mostrou uma quebra na racionalidade e fez com que sorrissem mais e vissem o mundo de forma colorida, mesmo que fosse apenas na cor do celofane colado.
A seqüência com os professores específicos em outras aulas fez ampliar o olhar diferente sobre as coisas a partir do olhar na escola e também através de conceitos de palavras sobre sensações e sentimentos humanos ainda em construção: compaixão, tolerância, solidariedade, humanidade, sonho, amor...
(...) o sonho é tão necessário aos sujeitos políticos, transformadores do mundo e não adaptáveis a ele (...) (Freire, p. 92 , 1992)
(...) Que educador seria eu se não me sentisse movido por forte impulso que me faz buscar, sem mentir, argumentos convincentes na defesa dos sonhos por que luto? Na defesa razão de ser da esperança com que atuo como educador. (Freire, p. 84, 1992)
O Teatro
O teatro tem significado maior em meu trabalho e para alunos e alunas que trabalham comigo também. Ele é um instrumento de desinibição, integração, alfabetização, politização e transformação, ele faz com que a criança, o adolescente e o adulto sintam-se parte e protagonista de sua própria vida e sociedade.
"O ser torna-se humano ao descobrir o teatro" (Augusto Boal, 1992)
O trabalho de teatro da semana encontrou um conteúdo diferente, a experimentação de energias corporais e o domínio sobre ela e o corpo. O trabalho é complexo e demorado, Trabalha com três energias - Semente (suave), Pantera (ágil) e Samurai (dura), uma em sequencia da outra e com muito trabalho prático corporal. A experiência demonstrou na prática o olhar mágico, diferente e novo que as crianças estão tendo sobre a sua própria vida. No mesmo local que sempre fizeram teatro, seus olhos brilhavam a comentar que: “como é legal fazer esses movimentos com a energia”, encontrando um significado novo para o fazer teatro e para a seu dia-a-dia. “A atividade de expressão não visam à formação de um artista, mas sim ao desenvolvimento de um ser dinâmico e social” (Machado, 59, 1989).
Esse encontro entre o prazer do fazer do aluno e sua felicidade em realizar a atividade construindo algo novo e possibilitando seu desenvolvimento encontra eco naquilo que diz Paulo Freire: "Ninguém educa ninguém, todos nos educamos em comunhão ", pois é uma troca entre aquilo que é lançado pelo educador e o que é experimentado e devolvido pelo educando e sua relações.
(...) Refletindo desta forma sobre a questão, a unidade básica de análise do processo ensino/aprendizagem já não é a atividade individual do aluno e sim a atividade articulada e conjunta do aluno e do professor em torno da realização das tarefas escolares. A atividade auto-estruturante do aluno é gerada, toma corpo e transcorre não como uma atividade individual, mas como parte integrante de uma atividade interpessoal que a inclui.A atividade do aluno que está na base do processo de construção do conhecimento está inscrita de fato no domínio da integração ou interatividade professor/aluno. (Coll, 1981 in Coll, 1994)